sábado, 15 de novembro de 2014

BRINQUEDOS

Gabriela tem um monte de brinquedos, alguns favoritos, outros nem tanto. Brinquedos abduzidos da casa de amigos, como o Odie (personagem recorrente dos quadrinhos do Garfield) de pelúcia, outros recebidos de presente e ainda maiores que ela, seja a linda Marieta ou a Emilia, duas bonecas. E alguns ainda tem uma história particular.

Filó
Antes dela nascer, fomos ao centro comprar umas coisas para Gabriela. A Letícia ficou tão louca com uma centopéia toda colorida de pelúcia que não sossegou enquanto não trouxe ela para casa. Cabia a mim dar nome a nova moradora. O primeiro nome que me veio a cabeça foi FILOMENA, vulgo Filó. O curioso é que nunca vou saber o porquê desse nome, pois não conheço ninguém que se chame assim. Não é que Gabriela realmente se afeiçoou a Filó, a ponto de dormir todos os dias ao lado. Como ela tem o hábito de abraçar os bichos, invariavelmente eles acabam em baixo da axila dela. Como resultado disso, Filó ganhou um sobrenome, "SUVAQUENTA".


Marreco
Outro membro bem peculiar da família é um macaquinho de pelúcia que vai no analista toda a semana com crise de identidade. Para contextualizar, em 2012, estávamos em Florianópolis, quando minha esposa comprou o brinquedo para ela. Ela foi comprar um presente para outra criança e acabou levando o macaco para Gabriela. Algumas horas depois, na pousada onde estávamos hospedados, pergunta-se para a Gabriela qual vai ser o nome do macaco. Ela, sem pestanejar diz: "MACACO". A Letícia tenta explicar que o brinquedo é um macaco e que ela poderia colocar um nome diferente. A mesma resposta se repetiu mais umas duas vezes, até que ela foi convencida de que "macaco" não era um bom nome. Pois bem, aí ela solta a pérola, impossível de novamente negociar uma mudança de ideia, alegando que o nome escolhido era o nome de outro bicho, e o pior, não sabíamos de onde ela tinha tirado aquele nome. E o nome do macaco ficou Marreco. Agora vocês imaginem a crise de identidade, é marreco ou é macaco, é ave ou mamífero. Resultado: tive de levar o animal ao psicólogo.

E essa é mais uma GOSTOSA LEMBRANÇA do pai da Gabriela.

Agora

quarta-feira, 12 de novembro de 2014

LEÕES

Segundo uma antiga fábula africana, os leões guerreiros não se sentiam confortáveis de receber seu berimbau de presente, instrumento que lhe conferia nobreza e respeito. Para eles, era preciso conquistar essa honraria. E mesmo depois de alcançar esse privilégio, era necessário manter uma atitude digna de tamanha distinção. 

Por outro lado, os mesmos leões guerreiros ficavam extremamente satisfeitos e lisonjeados quando seus filhos eram agraciados e tinham o direito assegurado de seguir no mesmo caminho, sendo presenteados com o berimbau pelos leões mais antigos e experientes. Era sinal de agradecimento e que o leãozinho estava seguindo os passos dos pais. Claro que também é uma responsabilidade, tanto para pais como para filhos, já que essa era uma maneira de manter a tradição e os valores que o berimbau representava.

Dentre muitas facetas na minha vida, uma delas é a de usar o leão e o berimbau como símbolos, e de honrar o "pé" do berimbau, onde o combate normalmente começa e termina, dependendo do adversário. O que eu não esperava, é a alegria que meus irmãos de capoeira me deram esse final de semana que passou, proporcionando uma alegria tão intensa quanto o sorriso da minha guerreira ao ser honrada com o leão e o berimbau. O brilho dos seus olhos e a luz dos seu sorriso, só não são maiores que os meus hoje, e só serão superados quando um dia puder realizar o sonho de jogar capoeira com a minha Gabriela.


Essa é uma GRANDE VITÓRIA do pai da Gabriela e dela também.

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

RESILIÊNCIA


Antes de começar o texto, peço que peguem seus dicionários ilustrados e procurem a palavra RESILIÊNCIA. Se não estiver a foto de Gabriela ao lado da palavra, mandem de volta para as editoras e peçam um atualizado.

Resiliência é um conceito psicológico emprestado da física, definido como a capacidade do indivíduo de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas. A resiliência se trata de uma tomada de decisão quando alguém depara com um contexto entre a tensão do ambiente e a vontade de vencer. Essas decisões propiciam forças na pessoa para enfrentar a adversidade. A resiliência como uma combinação de fatores que propiciam ao ser humano condições para enfrentar e superar problemas e adversidades.

fonte: wikipédia

De minha parte eu tive o prazer de aprender esse conceito na prática com a nossa guerreira. Sinceramente, a sinergia entre a gente e a Gabriela é tanta, que ela motiva a gente a ter força de vontade para resistir a todas as provações e as diversas batalhas que passamos até agora.

Para se ter uma ideia, na primeira cirurgia após estar em casa, lá no longínquo janeiro de 2012, depois de um procedimento de 4 horas usando tubo de oxigênio, ela desperta, bate palmas, atira beijo para a equipe médica e pede colo. O detalhe desse caso é que a cirurgia era para tentar impedir que o cerebelo entupisse o canal medular o que poderia ter graves consequências. O procedimento foi tão complicado quanto a serenidade dela pode transmitir na foto.


Na segunda cirurgia, em julho do mesmo ano agora para soltar as raízes medulares que estavam presas nos ossos da região do sacro, ela reagiu tão bem no pós-operatório que saiu do hospital dois antes do previsto, conforme  o sempre presente sorriso demonstra.



Na terceira cirurgia, essa ortopédica e em janeiro desse ano, antes de entrar para a sala de preparação, ela estava fantasiando que iria para um concurso de princesas e depois da mesma, na sala de recuperação, ela estava tão preocupada em ir embora que pediu ao médico que deixasse ela olhar o desenho enquanto tomava o achocolatado dela.



Mas tudo isso é uma preparação para a maior etapa, a que realmente começou em setembro. Chegou o tão esperado tutor. No começo, como sempre, Gabriela foi resistente, chorou na penúltima prova, se agarrou em mim na prova definitiva. Começamos um trabalho de adaptação e em poucos dias, apesar dos resmungos normais, ela estava usando o aparelho. Algumas sessões de terapia e, no dia do aniversário da minha guerreira, compartilho com vocês uma pequena parte do que é ser presenteado com essa verdadeira força da natureza.





E essa é apenas uma pequena parte da GRANDE AVENTURA que é ser pai da Gabriela

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

MOVIMENTOS DE GUERRA

Chegar em um ambiente que se mostra inóspito, demonstrando claramente o quanto somos estranhos e não somos muito bem quistos. Foi assim que nos sentimos hoje. Parecíamos estar em terreno inimigo, invadindo um espaço que não tínhamos o direito de estar lá.

Alheio a tudo isso estavam nossos principais guerreiros, ainda munidos de suas armas tradicionais, mas esperando ansiosamente por armamento especializado para a batalha que estava por vir. Contudo, como pode acontecer quando estamos em guerra, nosso armamento não chegou a tempo. Restava a gente usar o que tínhamos naquele momento. E foi o que fizemos. 

Apesar do ambiente externo ser um pouco hostil, o local onde a contenda aconteceria era mais aprazível, de maior receptividade. Com os proclames de abertura, percebeu-se que a mesma se daria na forma de duelos, onde cada lado teria duas chances de mostrar sua força. Do nosso lado, tomamos uma estratégia mais ampla e coletiva, não revelando de vez todo o nosso poder, mas dando idéia do que poderia acontecer se fossemos desafiados.

E foi exatamente o que o outro lado fez, contra-atacando com sua arma mais pesada, de grande poder bélico, nos deixando meio desnorteados diante da beleza e plasticidade da forma como lutavam. Tínhamos que reagir de alguma forma, e foi o que fizemos, mandando para cima deles nossos 3 guerreiros mais experientes, mais voluntariosos e melhores preparados. Naquele momento, ganhamos o respeito do nosso adversário. Mesmo assim, tentaram algo diferente, mostrando sua fibra e sua paixão pela luta. 

No final, para demonstrar quão grandiosa foi aquela batalha e quão grande era a nossa satisfação de sermos vistos como iguais, mostramos uma nova arma, mais diversificada, mas que nada mais era que um movimento de comemoração, uma tentativa de tentar mostrar ao adversário que podemos ser diferentes, mas temos a mesma paixão e o mesmo amor pelo bom combate. Sendo assim, teremos que conviver e respeitar uns aos outros. 


Esse foi mais uma INEBRIANTE AVENTURA na minha vida de pai da Gabriela.

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

ESCOLHAS

A vida é feita de escolhas. A partir do momento que decidimos aceitar a Gabriela, temos a certeza que fizemos a escolha mais certa das nossas vidas.Segundo a sabedoria popular, o CARA lá de cima não lhe dá um fardo que você não possa carregar, e nós acreditamos sinceramente que isso é verdade, pois sempre, nessa trajetória de mais de quatro anos, as soluções surgiam quase que imediatamente após os obstáculos.

Eu escolhi papai, eu escolhi mamãe e eu escolhi a Gabriela.

Nessa célebre frase proferida pela própria guerreira, está a definição perfeita a nossa família. Uma teoria disse que fomos nós que pedimos essa tarefa, e se isso realmente aconteceu, nos sentimos honrados da decisão que tomamos. É claro que inúmeras vezes, durante a caminhada, fraquejamos mas apenas para nos levantarmos, secar as lágrimas e seguirmos em frente.

Essa foi mais uma GRANDE BÊNÇÃO dos pais da Gabriela.




domingo, 7 de setembro de 2014

TRÊS GUERREIROS

Eu já comecei inúmeras vezes esse texto, e das mais diversas formas, devido a avalanche de sentimentos que o texto e os fatos que serão relatados me proporcionam. Por fim, resolvi contar uma fábula ou seriam três episódios de uma guerra conjunta contra um inimigo comum: o diagnóstico definitivo. Os três episódios terão como protagonista um guerreiro diferente, e se houver a devida autorização, eles serão identificados. 

A primeira batalha a ser narrada é da minha heroína favorita, a linda e sorridente Gabriela (ainda não sei quem autorizou, mas acho que devo correr o risco), que nos seus primeiros meses de vida, nos foi dito que as pessoas portadoras do diagnóstico dela (hidrocefalia) tem dificuldade de formar frases. Para quem conhece essa guerreira, sabe que o que ela tem menos é dificuldade de falar, fala melhor que eu e muitos que conheço. 

A segunda batalha é de um menino esperto que teve diagnosticado uma síndrome tão rara que ele era o terceiro caso no Brasil. Procurando ajuda de uma das mais renomadas instituições do país, ao invés de tratarem ele, o associaram a outro diagnóstico. Com a evolução do menino, chegando aos parâmetros pré-estabelecidos no seu pseudo-diagnóstico, estavam tentando dizer que a guerra estava ganha, mas o menino sequer andava, e falar muito menos. Seus irmãos de batalha (família) sabiam que baseado no inimigo real esses objetivos poderiam ser alcançados. Então a instituição marcou uma avaliação, mas com os avaliadores querendo declarar a vitória absoluta. Durante a avaliação, os pais do guerreiro estavam sentados em um banco de frente do menino, mas a uma distância considerável. Pois o guerreiro, levantou-se de onde estava e, cercado por suas escudeiras foi caminhando cambaleante até a mãe, passando pelos avaliadores que, tenho certeza, ficaram com cara de abobados por ser "impossível" o que estavam testemunhando. É óbvio que tiveram que seguir o tratamento.

A terceira batalha não tenho muitos detalhes, mas foi em uma outra instituição, também renomada, onde foi dado um parecer de incapaz. Pois esse incapaz, é técnico em contabilidade e eu vi ele fazendo auto-escola. Não sou formado em medicina, mas será que alguém declarado incapaz pode tirar carteira de motorista?

A lição que eu tiro dessas três batalhas, é que mais importantes do que o diagnóstico fala sobre você, é como você encara o diagnóstico. 

Essas são as MAJESTOSAS VITÓRIAS de guerreiros tão grandiosos quanto a Gabriela.

domingo, 10 de agosto de 2014

PAI


Esse é meu quarto dia dos pais desde que você está na minha vida. No primeiro, você ainda estava na barriga, se mexia para caramba, mas eu ainda não podia tocá-la. Quando você teve a oportunidade de me dar o seu primeiro presente, sua mãe conseguiu registrar com a foto abaixo. Essa foto permanece até hoje ao lado da minha cama, acordo todos os dias olhando para ela. E toda a vez eu abro o meu presente.



No segundo, fui brindado com uma camiseta com uma foto sua que representa a forma como você encara o mundo, e toda a vez que eu visto essa camiseta, novamente abro o meu presente.


No terceiro ano, a escola foi o instrumento da recordação. E ela também utilizou uma foto, dessa vez comigo junto utilizando o presente mais importante que você me deste.


Toda a vez que vejo o seu sorriso, toda a vez que você me acorda, me chamando de paizinho, beijando minhas costas, quando você deita ao meu lado e faz um carinho na minha cabeça, tocando no meu corpo para se sentir segura, eu uso o meu presente. O meu maior presente é o sorriso de alegria e felicidade que eu ganhei desde o momento que descobri que eu seria o pai da GABRIELA. É por ele que eu tenho certeza que todos os dias são dias dos Pais. A alegria com que você encara o mundo me dá ainda mais força para encarar a guerra que estamos travando.

Obrigado por me escolher para ser seu pai, assim como seu que escolheu a sua mãe para o papel dela. Ah, e obrigado por escolher ser a GABRIELA (palavras suas).

Essa não é uma vitória, derrota ou vergonha, e sim uma declaração de amor por ser O PAI DA GABRIELA.

domingo, 6 de julho de 2014

A DOÇURA DE UM SORRISO

Tudo corria normalmente na UTI, se é que pode ser normal viver dentro desse mundo. Intercorrências, compartilhamento de vitórias, algumas pequenas derrotas, muitos ladinhos, vários colos, inclusive das técnicas que saiam embalando Gabriela durante a noite (ela já era irresistível). Muitos laços, sons, mamadas, arrotos, fraldas e etc. Mas no dia 20 de Novembro de 2010, pós uma bela mamada, Gabriela está deitada de lado no colo da mãe quando a mãe começa:

- Filha, quando tu estava na barriga da mamãe, tu se comunicava com a mãe se mexendo.

- Huuuummmmm! - Gemeu a Gabriela.

- E agora filha, que tu tá fora da barriga, como tu vai se comunicar?.

E a Gabriela nos brindou com esse lindo sorriso, um sorriso que parece permanecer eternamente em seu lindo rosto. O mais puro e belo sinal que as coisas seriam difíceis nos próximos tempos, mas sempre acabariam com esse sorriso maravilhoso.


E essa foi uma GRANDE BÊNÇÃO pro pai e pra mãe da Gabriela.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

CIRURGIAS

No dia do nascimento de Gabriela, saí do hospital depois das 8 da noite. Passei no meu pai para jantar, peguei umas cervejas e fui para casa. Estava cansado, precisava relaxar primeiro para depois dormir. No segundo dia de vida, Gabriela já iria passar por uma cirurgia, o que implicava em anestesia e isso aumentaria ainda mais o risco da já delicada situação. Não sei se foi por defesa ou por cansaço mesmo, só retornei ao hospital no outro dia, por volta das 10 da manhã. A cirurgia estava marcada para as 7 da manhã, e ainda não tinha acabado. Fui ver a Letícia (convalescendo bem da sua cesariana) e meus pais, que tinham sido informados que a cirurgia iria ocorrer em um andar, mas na realidade, acontecia em outro.

A cirurgia acabou depois das 11 horas e, após falar com cirurgião e equipe, fiquei esperando Gabriela acordar para poder cheirar ela, tocar sua mão, ouvir seus ruídos, velar seu sono, etc. Sempre rechacei aquelas pessoas que ficam apertando, amassando o bebê ou a criança, mas o fato de não poder dar nem um colo para minha filha, me forçou a descobrir novas formas de demonstrar carinho e que eu estava ali. Como Leticía ainda estava internada, eu literalmente passei o dia inteiro no hospital, ajudando e esperando que a dieta fosse liberada, pois queria "ver" a fome de Gabriela. E quando Gabriela começou a mamar, foi a glória. Ainda tinha que ser de mamadeira, já que não era possível amamentá-la diretamente por conta da cirurgia, mas mesmo assim queríamos que nossa guerreira se alimentasse. Como nem tudo é fácil nessa vida, Letícia acabou virando escrava da Medela (aparelho utilizado para extrair o leite das mamas), o que não é uma situação confortável.

No outro dia, Letícia teria alta do hospital. Iríamos para a casa dos meus pais, que moravam próximo, para qualquer intercorrência, seja com a Gabriela ou seja com a Letícia. E foi assim o final de semana inteiro, só saíamos do hospital para dormir ou comer. Na segunda, já fomos para a nossa casa, pois os pontos da cesariana estavam com boa cicatrização, com menores chances de intercorrências. 

Tudo corria bem até a quinta-feira, dia da segunda cirurgia, para colocar uma válvula na cabeça da Gabriela e resolver a hidrocefalia. Essa válvula é ligada a um cano que despeja o excesso de liquor na bexiga, o qual é eliminado na urina. Eu precisava assinar um termo de responsabilidade no consultório do médico, antes da cirurgia. Mas como a cirurgia era de tarde, eu iria fazer de manhã isso. Acontece que naquela madrugada, lá pelas 5 da manhã, o nosso anjinho da guarda nos acordou, então resolvemos ir ao hospital. Dentro da rotina da UTI, entre 6 e 7 da manhã, os pais não podem entrar, por conta da troca de plantão. Pois uma técnica saiu da UTI, nos viu e mandou que a gente entrasse e nós, bem felizes entramos. Mal nós sabíamos que a nossa entrada foi permitida porque o médico adiantou o horário da cirurgia, e a mesma seria feita as 8 da manhã. Com isso Gabriela estava já de jejum e, por consequência, chorava desesperada de fome. Chegamos perto, demos um beijo e eu tomei a iniciativa de cantar para ela. Me lembro que a primeira foi o famoso "boi da cara preta", mas não deu muito resultado. Então tentei uma música que estava sempre cantando para ela durante a gestação, pois naquele ano o Pato Fú tinha lançado o disco Música de Brinquedo, e eu estava ouvindo música. E a música que eu mais gostava era essa: 




As técnicas chegaram a se emocionar com a Primavera do Tim Maia pois foram os únicos minutos que Gabriela ficou quietinha, só ouvindo. Logo depois, levaram ela para a sala de cirurgia e tudo correu bem mais uma vez. 

Mas ainda tínhamos um desafio, a cicatrização da primeira cirurgia, pois a pele da região lombar era muito fina e tinha o risco de necrose, o que poderia levar a uma nova cirurgia, dessa vez, plástica para enxertar tecido epitelial na região. O fantasma de um novo procedimento não estava nos nossos planos naquele momento, pois além dos riscos diversos de um procedimento cirúrgico, isso iria segurar a gente mais dias no hospital. Pois não é que mais uma vez o meu anjo da guarda me ajuda, e ele sopra no ouvido da enfermeira responsável pelo turno a lembrança que ela tem de um medicamento cicatrizante. Resultado, sem cirurgia, e eu finalmente, no dia 04/11/2010, tive a honra de, pela primeira vez, pegar Gabriela no colo.





E essa foi mais uma GRANDIOSA VITÓRIA de Gabriela, do pai dela e da mãe dela.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

NASCE A GUERREIRA

Finalmente estava chegando a hora. Um fato que nos assombraria até o dia do nascimento é que não poderia haver nenhuma intercorrência, nenhum risco de Gabriela nascer antes do tempo, pois o risco de sequela seria muito grande. Apesar de estarmos muito nervosos, tudo deu certo e chegou o grande dia. Acordamos cedo (5 da manhã) e as 6 já estávamos no Mãe de Deus, cada vez mais apavorados, conforme vocês podem ver nessa foto da Letícia tirada na sala de preparação.



Assisti ao parto (um ato de coragem que n666unca pensei ter), e como não suporto ver sangue e outras situações ligadas a uma sala de cirurgia, só fiquei focado na Letícia, me escondendo nos panos (ou campos, como a obstetra e o anestesista chamaram). Mesmo com a grande incisão feita por ela, além do auxiliar, o anestesista teve que ajudar para evitar sequelas por conta da hidrocefalia. 

Lembram do box explicando como era a rotina de um parto no último post? Pois bem, nada daquilo aconteceu conosco. Fomos instruídos que após o bebê nascer, os médicos cortariam o cordão umbilical e levariam ele para a mãe dar o primeiro colo. Depois o pai levaria ele para checar peso e altura, correto? Errado. Sequer pegamos Gabriela no colo, a pediatra recebeu ela do médico e levou ela para pesar. Depois disso, levou direto para o berço aquecido na UTI neonatal a qual ainda não podia ve-la. Eu sai para dar notícia aos nossos familiares.

Logo depois, veio a obstetra, explicando que Gabriela iria ficar na UTI por risco de infecção, etc. Mais uma frustração, pois ninguém conseguiria ver Gabriela naquele dia, exceto eu. Mas como meu anjo da guarda nunca me abandona, logo depois que fui conhecer a UTI e sua rotina, para minha surpresa fui informado que  existem 3 dias de visita, quarta, sábado e domingo, das 16 às 16:30. Adivinhem que dia da semana era aquele 20 de Outubro de 2010? Quarta-feira. Resultado, tanto minha mãe quanto a Dulce (minha sogra postiça) viram Gabriela.

O resto do dia, fiquei na UTI com a Gabriela, deixando a Letícia mais aos cuidados da Dulce. O mais legal e, ao mesmo tempo, angustiante foi que a minha filha nasceu pronta para sugar, ávida de fome, mas não podia consumir o leite da mãe dela, pois o risco de agravar a lesão ainda era grande. A alimentação naquele primeiro dia ficou restrita ao soro. Mas como era de se esperar, tão guerreira quanto ela foi dentro do útero, ela seria aqui fora. Tanto que as enfermeiras deram um bico para ela continuar a ser estimulada na sucção. Parecia a Meg Simpson com tantos estalos que dava sugando a chupeta.

Essa foi a quinta PEQUENA VITÓRIA de Gabriela, mas nem tão pequena assim.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O CIRURGIÃO

Os planos continuaram a serem feitos, mas agora tínhamos uma nova meta, achar um neuro-cirurgião pediátrico. Seria necessário um profissional do quadro de médicos do Hospital Moinhos de Vento (MV) ou Mãe de Deus (MD), hospitais onde a obstetra também operava, de nossa preferência também pelo renome  e que fosse credenciado do nosso plano de saúde. Começamos a procura da maneira mais burra, consultando o próprio plano, o que levou a gente a muitos nomes, mas apenas um tinha especialização pediátrica e só fazia isso no Hospital da Criança Conceição. Nesse meio tempo, surgiu um curso de preparação para pais no MD e achamos uma boa oportunidade de verificar qual médico realizava essas cirurgias habitualmente naquele hospital.

Através do curso, aprendemos mais sobre recém-nascidos, qual é a rotina de um parto, independente do tipo, como fazer a higiene e trocar as fraldas e também obtivemos a informação de que era o Dr. Luiz Felipe, o cirurgião que está cuidando da Gabriela até hoje. Com essa informação, fomos procurar o médico que nos deixou bem seguros, pois trabalhava com o plano e tinha grande credibilidade. 

A rotina, para quem ainda não participou de um parto, ou até em filmes e novelas, é a seguinte, após o parto propriamente dito, o médico leva o filho até a mãe e o pai, limpam o bebê e o pai ou até a enfermagem leva o bebê até a balança para pesar e também aproveitam para medir a altura e depois devolvem para os pais.

Voltando ao assunto principal, faltando um mês para Gabriela nascer, a secretária do cirurgião nos liga para avisar que o médico não vai poder operar a nossa filha pois ele só faz consulta pelo plano e não realiza cirurgias. A decepção e o medo do relógio ressurgia, pois uma cirurgia já era necessária nas primeiras 24 horas. O maior medo era ter que voltar a estaca zero, sendo necessário toda a estrutura, incluindo médicos, hospital e etc. por conta da porcaria do plano de saúde, não fazia parte dos nossos planos. Seria muito complicado com tão pouco tempo.

Tomamos a primeira providência, consultar um novo cirurgião, mas com este tínhamos mais um obstáculo, se Gabriela desse um susto e nascesse antes do tempo, ele não estaria em Porto Alegre e, portanto, não poderia operar. Faltando uns quinze dias para o parto, o médico nos telefona e avisa que conseguiu uma saída para receber seus honorários através de uma associação de profissionais que era cadastrada no plano de saúde e que, usando as palavras dele: "iria cuidar da Gabriela".

 Essa foi a quarta PEQUENA VITÓRIA da Gabriela.

quarta-feira, 14 de maio de 2014

A VERGONHA

Esta noite eu tive a mais constrangedora experiência da minha vida de pai. Pela primeira vez, desde que Gabriela começou a passar por esse procedimento, eu fiz a sondagem completa para retirar a urina dela. E olha que eu fugi dessa tarefa, evitei ao máximo, no máximo manipulei a seringa, sem passar pela etapa da assepsia e introdução da sonda. Foi uma avalanche de sentimentos contraditórios, principalmente impotência, medo, gratidão e cobrança.

IMPOTÊNCIA, por não ser capaz de entender racionalmente o motivo de estar fazendo aquilo e, ao mesmo tempo, se culpar por nunca ter tido coragem de tomar o lugar da minha esposa nessa tarefa tão rotineira para ela.

MEDO, pois me sentia invadindo a privacidade da minha filha. Tenho consciência que estava mais apavorado que Gabriela, pois o procedimento já faz parte da rotina dela, mas ainda não consigo racionalizar completamente isso. Tinha medo também por saber que aquela não seria a última vez e nem saber quando essa vez iria chegar. Tenho medo também do fantasma da infecção urinária, tanto por ser relapso na higiene como por não conseguir esvaziar a bexiguinha dela.

GRATIDÃO, por ter ainda meu lado uma grande mulher, uma verdadeira guerreira como a Letícia, de personalidade forte, inclusive tenho certeza que Gabriela herdou dela o seu grandioso espírito de luta.

COBRANÇA, por demorar tanto para realmente ajudar a minha companheira, minha parceira, meu aconchego nos momentos de fraqueza, minha guerreira de tantas batalhas que já se passaram e de tantas outras que ainda virão.

Peço desculpas por quebrar a linha cronológica da história da minha Gabriela, mas eu precisava externar o que eu estou sentindo, pois se deixasse para depois, não conseguiria transmitir tão verdadeiramente a angústia que estou sentindo agora.

Eu nem sei dizer se é vitória ou  derrota, sinto que está mais para PEQUENA VERGONHA do pai da Gabriela.

quinta-feira, 1 de maio de 2014

O SUSTO - parte 2, a reação

A notícia não era nada boa, não só pelo diagnóstico, mas também por não sabermos quais as sequelas da má formação, sabíamos apenas que ela precisava fazer, pelo menos, duas cirurgias, uma para o fechamento da lesão e a segunda para "resolver" a hidrocefalia. Nosso maior medo na época eram as sequelas neurológicas e motoras, pois com a formação da coluna e a consequente ação do liquor, além dos riscos decorrentes das duas cirurgias, todas envolvendo nervos e em áreas delicadas, sequelas graves seriam possíveis.

Após a consulta, uma avalanche de sentimentos passou pela cabeça e pelo coração, principalmente revolta e culpa por não sermos capazes de gerar uma criança "perfeita".

Esse tipo de reação, num primeiro momento poderia ser esperado, mas muitos não entenderam, pois como qualquer ser humano, somos passíveis de fraqueza. Inclusive nosso tio, tempos depois, nos cobrou uma atitude mais madura, com menos revolta, menos lamento, sem compreender que aquele era apenas um momento em que fraquejamos.

Passado o susto,  eu e a Letícia decidimos encarar o que Deus e a vida gostariam de nos ensinar. Era óbvio que estávamos apavorados, mas não adiantava ficarmos focados com situações sem modificação durante a gravidez. Tínhamos que aceitar a tarefa de sermos pais da GABRIELA com todo o peso da função. Hoje, olhando para trás, temos certeza que tudo foi apenas para o nosso amadurecimento. Como algumas vezes ouvimos: "Deus não dá uma missão para alguém que ele não acredita francamente na sua capacidade de realização".

Essa foi a terceira PEQUENA VITÓRIA da Gabriela e uma GRANDIOSA VITÓRIA do Edison e da Letícia

domingo, 27 de abril de 2014

O SUSTO - parte 1

Conforme o tempo passava, a barriga da Letícia já estava aparecendo, os planos e o andamento do crescimento da minha guerreira (nasce aqui esse apelido) correndo normalmente. Quando chega a 20º semana e a famosa eco-morfológica. Como de rotina, faríamos a eco pela manhã e levaríamos o resultado na obstetra a tarde. Pois naquele dia, a examinadora ficou muito quieta logo nos primeiros minutos do exame, sem interagir conosco. Por outro lado, o exame demorou mais de uma hora, mas até a fatídica notícia, achávamos que era normal aquele tempo todo, afinal era a morfológica. Só quando a médica veio dizendo que havia uma má formação congênita caracterizada pelo fechamento incompleto do tubo neural (obrigado wikipédia) da GABRIELA é que entendemos o silêncio dela.

A médica simplesmente explicou que a nossa bebê tinha uma má formação, sem maiores detalhes e recomendou que levássemos o resultado para a obstetra. Saímos temerosos do laboratório, principalmente pela falta de informação. Quando a médica da Letícia viu o resultado, se surpreendeu e explicou que a mielomeningocele é comum em gravidez onde a mãe tem deficiência de ácido fólico e aquilo não era esperado, visto que Letícia tomou ácido fólico durante 8 meses antes de ficarmos grávidos. No mais, recomendou que não fossemos a internet procurar sobre essa patologia, pois iríamos ver apenas os piores casos (única dica útil) e que era melhor procurar um neurologista para explicar melhor o que estava acontecendo com a GABRIELA, pois aquele era o seu primeiro caso em 25 anos de obstetrícia.

Isso era uma quarta ou quinta-feira, e a consulta mais próxima que conseguimos de um neurologista era na outra terça-feira. Diante das inúmeras dúvidas sobre as reais consequências, os piores pensamentos habitavam as nossas mentes. Para tentar aconchegar a Letícia, resolvemos ir para Tapes, onde o pai dela morava. Além dele, ela tinha a Dulce e outros entes queridos para tentar dar um melhor acolhimento diante da sombra que estava em nossas cabeças.

Pelo que me lembro, fomos viajar na quinta no final do dia, e aquele prometia ser o final de semana prolongado mais longo e, ao mesmo tempo, pesado da história, mas fomos interrompidos pelo meu tio João, no sábado, dizendo que marcou uma consulta com um outro obstetra, o qual tinha uma máquina de ecografia no seu consultório, para confrontar os resultados. A consulta seria na segunda e por isso, precisávamos antecipar em um turno o retorno a Porto Alegre (voltaríamos na segunda após o almoço). A consulta foi uma tentativa do meu tio de tentar achar uma maneira de acalmar a "lagartixa" e eu, mas infelizmente não mudou em nada o diagnóstico anterior.

Na consulta do neurologista ficamos sabendo de todas as sequelas da lesão que essa má formação poderia trazer. A única sequela certa seria a hidrocefalia, no mais era aguardar até o nascimento, pois segundo a medicina tradicional, nada mais poderia ser feito.

Assim acontece a PRIMEIRA DERROTA de Gabriela.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

SEXO X NOME

Enquanto a ficha caia, a vida continuava. Antes de saber que iria ser pai, estava planejado uma viagem a Natal/RN para o mês de março daquele 2010. Eu já conhecia alguns pontos, mas tinha a obrigação de levar a minha joalheira antes que a jóia (GABRIELA) crescesse a ponto de ficarmos mais restritos e sossegados.

Antes de continuar a história, uma pequena dica para os aventureiros, em vez de procurar grandes operadoras e pagar uma babilônia de dinheiro para não conseguir curtir a viagem, procure operadoras locais. Será mais barato e você conseguirá curtir mais. Nessa viagem, fomos com passagem, hotel, traslado e o citytour marcado. Os passeios todos foram marcados lá. Para passear de buggy, precisavamos de um motorista mais cuidadoso e, ao mesmo tempo, de parcerias que não quisessem tanta emoção (ficar dando  "zerinho" na areia era impensável). A guia conseguiu e combinou tudo com o "buggeiro" e fizemos um passeio maravilhoso. Fomos a PIPA, Barra do Cunhaú, Maracajaú (mergulho divino) e Barra do Punhaú também. Valeu muito a pena.

Além disso, precisavamos tomar algumas decisões comuns aos casais "grávidos". Escolher nome é a mais comum. Preferência por sexo eu nunca tive, meu pai sempre me ensinou que o importante é a criança ter saúde. Mas naquele momento, a música do Raul Seixas, Meu amigo Pedro sempre me assombrava, não pela letra inteira, mas sempre pelo refrão: "PEDRO, ONDE CÊ VAI EU TAMBÉM VOU...".

 

Pois durante a viagem, no terceiro dia de passeio, eu e a Letícia estava descendo as famosas escadarias da praia da PIPA e, ao mesmo tempo, queria fotos dela. Como eu prefiro ver as imagens ao vivo e guardar no cérebro e no coração, queria descer a escadaria e chegar próximo ao mar. Não é que Letícia achou uma baiana fotografa (beijo, Rejane Rodrigues). Eu, por outro lado, como também sou um rapaz tímido, desci a longa escadaria (que medo da subida) e já puxei papo com um casal carioca que veio no mesmo transfer (saudades da Suyene e do Leandro). Pronto, estava feita a turma.
Entre uma conversa, uma cerveja e um petisco, a Letícia conta da gravidez e que não tínhamos nome ainda, caso fosse menina. Como mulher gosta de falar, acabaram as 3 (Lê, Suy e Rejane) decidindo que o nome seria GABRIELA, agora faltava me convencer.
O fato é que o nome não me pareceu tão forte quanto Pedro, aliado a música na minha cabeça, não tinha confiança naquele nome. No outro dia, na Barra do Cunhaú, é que conseguiram me convencer. Até hoje não entendo como, acho que  me embebedaram (o que não tiveram muito esforço para isso) para me convencer. Hoje, independente do nome, vejo que GABRIELA é extremamente forte, mais forte que todos esperávamos. Diante do que passou e do que ainda vai passar, acho que ela é mais forte que todas as pessoas que estão nessa luta junto com ela, e é ela que nos concede um pouco dessa força para enfrentarmos as batalhas que vieram e virão.

Assim acontece a segunda PEQUENA VITÓRIA de Gabriela.

Obs.: olhando para trás agora, não sei se foi tão pequena...

sábado, 12 de abril de 2014

A DESCOBERTA

Tudo começa em um final de semana em meados de fevereiro de 2010, em Tapes/RS, quando a minha esposa nota o atraso do seu ciclo e que ela pode estar grávida. Eu, como conhecia muito bem a pontualidade do corpo dela, já sabia que eu iria ser presenteado com a maior honraria que um homem pode ter: SER PAI. Decidimos então dar a notícia apenas após a comprovação por meio de exames e, na segunda-feira, levei a Letícia a um laboratório para fazer o famoso Beta-HCG. Com a resultado positivo, procuramos a ginecologista e obstetra para saber os primeiros procedimentos, notificamos aos familiares e amigos, essas coisas triviais de qualquer casal que está "grávido". De minha parte, estava muito feliz mas ainda sem a noção total do que o futuro me reservava. Acho que isso vai acontecendo aos poucos, com o corpo e o comportamento da Letícia se modificando conforme o maravilhoso fruto da nossa relação vai se desenvolvendo dentro dela. Lembro também que as primeiras semanas foram de um certo temor, pois já tinhamos perdido uma gestação antes, que só foi superada a partir de uma frase de um ex-cliente e médico obstetra:
"40% das primeiras gestações de uma mulher são perdidas simplesmente por imaturidade do corpo."
Assim chegamos a primeira PEQUENA VITÓRIA da nossa Gabriela...