sábado, 25 de abril de 2015

MÁSCARAS

Em meados do segundo semestre de 2012, em uma reunião de avaliação da Gabriela, uma das profissionais envolvidas sugeriu que Gabriela utilizasse uma máscara. Na hora, eu fiquei doido, com uma raiva cega, quase fui as vias de fato com ela. Minha vontade era de cometer uma loucura, uma imbecilidade, já que ela disse que minha filha era feia demais para mostrar o seu rosto para as outras pessoas.

Passado uns 45 dias, minha esposa me comunica que aceitou e encomendou a máscara. Naquele momento, a raiva novamente me subiu a cabeça, mas ela alegou que estava se sentindo pressionada, então ela cedeu, mas não significava que Gabriela iria utilizar aquele objeto tão demoníaco e horripilante.

Foram alguns meses, utilizando a máscara em casa e ambientes que poderiam ser controlados por nós até termos coragem de sair com ela na rua. Foram alguns dias caçando os olhares das pessoas, em busca de um olhar de pena ou pseudo-sofrimento por achar que entenderiam o que Gabriela estava passando. Quando já não buscávamos mais esse tipo de reprovação, em um dia, num Shopping Center daqui de Porto Alegre, casualmente eu vi uma moça lamentando. Na hora, o sangue me subiu a cabeça, pois li nos seus lábios, a pior palavra/julgamento que se pode ter por um ser na face da terra: "COITADINHA". No auge da minha raiva, mas ainda sem perder a razão, só pude proferir, olhando nos seus olhos: "Coitadinha, por quê?". E segui meu caminho, eu, minha filha e a sua máscara, felizes e contentes como se nada tivesse acontecido.

Passado mais alguns meses, conhecemos um outro mascarado e sua fiel escudeira, e realmente começamos a perceber que um outro mundo existia, mesmo usando máscaras. Podíamos realmente brincar, se divertir, dançar, praticar esportes e, principalmente, respeitar e lutar para que as pessoas que não usam máscaras nos respeitem, pois apesar de usá-las,  nós vestimos, nós comemos, nós sentimos e nós existimos.

Se um dia eu tive medo ou vergonha de ver uma pessoa de máscara, não pelo objeto em si, mas por achar que eu compreendia como ela estava se sentido, hoje eu digo: quer saber como é realmente, vista a máscara. Essa é a minha família experimentando coletivamente usar e ver os outros usarem máscaras.



Esta é uma PEQUENA LIÇÃO que o pai da Gabriela aprendeu com três pessoas que eu respeito e admiro muito. Obrigado Bibiana Silveira, obrigado Cintia Florit  e obrigado Luiz Portinho, mas principalmente obrigado meu holofote, meu sol, OBRIGADO GABRIELA.