segunda-feira, 30 de junho de 2014

CIRURGIAS

No dia do nascimento de Gabriela, saí do hospital depois das 8 da noite. Passei no meu pai para jantar, peguei umas cervejas e fui para casa. Estava cansado, precisava relaxar primeiro para depois dormir. No segundo dia de vida, Gabriela já iria passar por uma cirurgia, o que implicava em anestesia e isso aumentaria ainda mais o risco da já delicada situação. Não sei se foi por defesa ou por cansaço mesmo, só retornei ao hospital no outro dia, por volta das 10 da manhã. A cirurgia estava marcada para as 7 da manhã, e ainda não tinha acabado. Fui ver a Letícia (convalescendo bem da sua cesariana) e meus pais, que tinham sido informados que a cirurgia iria ocorrer em um andar, mas na realidade, acontecia em outro.

A cirurgia acabou depois das 11 horas e, após falar com cirurgião e equipe, fiquei esperando Gabriela acordar para poder cheirar ela, tocar sua mão, ouvir seus ruídos, velar seu sono, etc. Sempre rechacei aquelas pessoas que ficam apertando, amassando o bebê ou a criança, mas o fato de não poder dar nem um colo para minha filha, me forçou a descobrir novas formas de demonstrar carinho e que eu estava ali. Como Leticía ainda estava internada, eu literalmente passei o dia inteiro no hospital, ajudando e esperando que a dieta fosse liberada, pois queria "ver" a fome de Gabriela. E quando Gabriela começou a mamar, foi a glória. Ainda tinha que ser de mamadeira, já que não era possível amamentá-la diretamente por conta da cirurgia, mas mesmo assim queríamos que nossa guerreira se alimentasse. Como nem tudo é fácil nessa vida, Letícia acabou virando escrava da Medela (aparelho utilizado para extrair o leite das mamas), o que não é uma situação confortável.

No outro dia, Letícia teria alta do hospital. Iríamos para a casa dos meus pais, que moravam próximo, para qualquer intercorrência, seja com a Gabriela ou seja com a Letícia. E foi assim o final de semana inteiro, só saíamos do hospital para dormir ou comer. Na segunda, já fomos para a nossa casa, pois os pontos da cesariana estavam com boa cicatrização, com menores chances de intercorrências. 

Tudo corria bem até a quinta-feira, dia da segunda cirurgia, para colocar uma válvula na cabeça da Gabriela e resolver a hidrocefalia. Essa válvula é ligada a um cano que despeja o excesso de liquor na bexiga, o qual é eliminado na urina. Eu precisava assinar um termo de responsabilidade no consultório do médico, antes da cirurgia. Mas como a cirurgia era de tarde, eu iria fazer de manhã isso. Acontece que naquela madrugada, lá pelas 5 da manhã, o nosso anjinho da guarda nos acordou, então resolvemos ir ao hospital. Dentro da rotina da UTI, entre 6 e 7 da manhã, os pais não podem entrar, por conta da troca de plantão. Pois uma técnica saiu da UTI, nos viu e mandou que a gente entrasse e nós, bem felizes entramos. Mal nós sabíamos que a nossa entrada foi permitida porque o médico adiantou o horário da cirurgia, e a mesma seria feita as 8 da manhã. Com isso Gabriela estava já de jejum e, por consequência, chorava desesperada de fome. Chegamos perto, demos um beijo e eu tomei a iniciativa de cantar para ela. Me lembro que a primeira foi o famoso "boi da cara preta", mas não deu muito resultado. Então tentei uma música que estava sempre cantando para ela durante a gestação, pois naquele ano o Pato Fú tinha lançado o disco Música de Brinquedo, e eu estava ouvindo música. E a música que eu mais gostava era essa: 




As técnicas chegaram a se emocionar com a Primavera do Tim Maia pois foram os únicos minutos que Gabriela ficou quietinha, só ouvindo. Logo depois, levaram ela para a sala de cirurgia e tudo correu bem mais uma vez. 

Mas ainda tínhamos um desafio, a cicatrização da primeira cirurgia, pois a pele da região lombar era muito fina e tinha o risco de necrose, o que poderia levar a uma nova cirurgia, dessa vez, plástica para enxertar tecido epitelial na região. O fantasma de um novo procedimento não estava nos nossos planos naquele momento, pois além dos riscos diversos de um procedimento cirúrgico, isso iria segurar a gente mais dias no hospital. Pois não é que mais uma vez o meu anjo da guarda me ajuda, e ele sopra no ouvido da enfermeira responsável pelo turno a lembrança que ela tem de um medicamento cicatrizante. Resultado, sem cirurgia, e eu finalmente, no dia 04/11/2010, tive a honra de, pela primeira vez, pegar Gabriela no colo.





E essa foi mais uma GRANDIOSA VITÓRIA de Gabriela, do pai dela e da mãe dela.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

NASCE A GUERREIRA

Finalmente estava chegando a hora. Um fato que nos assombraria até o dia do nascimento é que não poderia haver nenhuma intercorrência, nenhum risco de Gabriela nascer antes do tempo, pois o risco de sequela seria muito grande. Apesar de estarmos muito nervosos, tudo deu certo e chegou o grande dia. Acordamos cedo (5 da manhã) e as 6 já estávamos no Mãe de Deus, cada vez mais apavorados, conforme vocês podem ver nessa foto da Letícia tirada na sala de preparação.



Assisti ao parto (um ato de coragem que n666unca pensei ter), e como não suporto ver sangue e outras situações ligadas a uma sala de cirurgia, só fiquei focado na Letícia, me escondendo nos panos (ou campos, como a obstetra e o anestesista chamaram). Mesmo com a grande incisão feita por ela, além do auxiliar, o anestesista teve que ajudar para evitar sequelas por conta da hidrocefalia. 

Lembram do box explicando como era a rotina de um parto no último post? Pois bem, nada daquilo aconteceu conosco. Fomos instruídos que após o bebê nascer, os médicos cortariam o cordão umbilical e levariam ele para a mãe dar o primeiro colo. Depois o pai levaria ele para checar peso e altura, correto? Errado. Sequer pegamos Gabriela no colo, a pediatra recebeu ela do médico e levou ela para pesar. Depois disso, levou direto para o berço aquecido na UTI neonatal a qual ainda não podia ve-la. Eu sai para dar notícia aos nossos familiares.

Logo depois, veio a obstetra, explicando que Gabriela iria ficar na UTI por risco de infecção, etc. Mais uma frustração, pois ninguém conseguiria ver Gabriela naquele dia, exceto eu. Mas como meu anjo da guarda nunca me abandona, logo depois que fui conhecer a UTI e sua rotina, para minha surpresa fui informado que  existem 3 dias de visita, quarta, sábado e domingo, das 16 às 16:30. Adivinhem que dia da semana era aquele 20 de Outubro de 2010? Quarta-feira. Resultado, tanto minha mãe quanto a Dulce (minha sogra postiça) viram Gabriela.

O resto do dia, fiquei na UTI com a Gabriela, deixando a Letícia mais aos cuidados da Dulce. O mais legal e, ao mesmo tempo, angustiante foi que a minha filha nasceu pronta para sugar, ávida de fome, mas não podia consumir o leite da mãe dela, pois o risco de agravar a lesão ainda era grande. A alimentação naquele primeiro dia ficou restrita ao soro. Mas como era de se esperar, tão guerreira quanto ela foi dentro do útero, ela seria aqui fora. Tanto que as enfermeiras deram um bico para ela continuar a ser estimulada na sucção. Parecia a Meg Simpson com tantos estalos que dava sugando a chupeta.

Essa foi a quinta PEQUENA VITÓRIA de Gabriela, mas nem tão pequena assim.

quarta-feira, 4 de junho de 2014

O CIRURGIÃO

Os planos continuaram a serem feitos, mas agora tínhamos uma nova meta, achar um neuro-cirurgião pediátrico. Seria necessário um profissional do quadro de médicos do Hospital Moinhos de Vento (MV) ou Mãe de Deus (MD), hospitais onde a obstetra também operava, de nossa preferência também pelo renome  e que fosse credenciado do nosso plano de saúde. Começamos a procura da maneira mais burra, consultando o próprio plano, o que levou a gente a muitos nomes, mas apenas um tinha especialização pediátrica e só fazia isso no Hospital da Criança Conceição. Nesse meio tempo, surgiu um curso de preparação para pais no MD e achamos uma boa oportunidade de verificar qual médico realizava essas cirurgias habitualmente naquele hospital.

Através do curso, aprendemos mais sobre recém-nascidos, qual é a rotina de um parto, independente do tipo, como fazer a higiene e trocar as fraldas e também obtivemos a informação de que era o Dr. Luiz Felipe, o cirurgião que está cuidando da Gabriela até hoje. Com essa informação, fomos procurar o médico que nos deixou bem seguros, pois trabalhava com o plano e tinha grande credibilidade. 

A rotina, para quem ainda não participou de um parto, ou até em filmes e novelas, é a seguinte, após o parto propriamente dito, o médico leva o filho até a mãe e o pai, limpam o bebê e o pai ou até a enfermagem leva o bebê até a balança para pesar e também aproveitam para medir a altura e depois devolvem para os pais.

Voltando ao assunto principal, faltando um mês para Gabriela nascer, a secretária do cirurgião nos liga para avisar que o médico não vai poder operar a nossa filha pois ele só faz consulta pelo plano e não realiza cirurgias. A decepção e o medo do relógio ressurgia, pois uma cirurgia já era necessária nas primeiras 24 horas. O maior medo era ter que voltar a estaca zero, sendo necessário toda a estrutura, incluindo médicos, hospital e etc. por conta da porcaria do plano de saúde, não fazia parte dos nossos planos. Seria muito complicado com tão pouco tempo.

Tomamos a primeira providência, consultar um novo cirurgião, mas com este tínhamos mais um obstáculo, se Gabriela desse um susto e nascesse antes do tempo, ele não estaria em Porto Alegre e, portanto, não poderia operar. Faltando uns quinze dias para o parto, o médico nos telefona e avisa que conseguiu uma saída para receber seus honorários através de uma associação de profissionais que era cadastrada no plano de saúde e que, usando as palavras dele: "iria cuidar da Gabriela".

 Essa foi a quarta PEQUENA VITÓRIA da Gabriela.