domingo, 27 de abril de 2014

O SUSTO - parte 1

Conforme o tempo passava, a barriga da Letícia já estava aparecendo, os planos e o andamento do crescimento da minha guerreira (nasce aqui esse apelido) correndo normalmente. Quando chega a 20º semana e a famosa eco-morfológica. Como de rotina, faríamos a eco pela manhã e levaríamos o resultado na obstetra a tarde. Pois naquele dia, a examinadora ficou muito quieta logo nos primeiros minutos do exame, sem interagir conosco. Por outro lado, o exame demorou mais de uma hora, mas até a fatídica notícia, achávamos que era normal aquele tempo todo, afinal era a morfológica. Só quando a médica veio dizendo que havia uma má formação congênita caracterizada pelo fechamento incompleto do tubo neural (obrigado wikipédia) da GABRIELA é que entendemos o silêncio dela.

A médica simplesmente explicou que a nossa bebê tinha uma má formação, sem maiores detalhes e recomendou que levássemos o resultado para a obstetra. Saímos temerosos do laboratório, principalmente pela falta de informação. Quando a médica da Letícia viu o resultado, se surpreendeu e explicou que a mielomeningocele é comum em gravidez onde a mãe tem deficiência de ácido fólico e aquilo não era esperado, visto que Letícia tomou ácido fólico durante 8 meses antes de ficarmos grávidos. No mais, recomendou que não fossemos a internet procurar sobre essa patologia, pois iríamos ver apenas os piores casos (única dica útil) e que era melhor procurar um neurologista para explicar melhor o que estava acontecendo com a GABRIELA, pois aquele era o seu primeiro caso em 25 anos de obstetrícia.

Isso era uma quarta ou quinta-feira, e a consulta mais próxima que conseguimos de um neurologista era na outra terça-feira. Diante das inúmeras dúvidas sobre as reais consequências, os piores pensamentos habitavam as nossas mentes. Para tentar aconchegar a Letícia, resolvemos ir para Tapes, onde o pai dela morava. Além dele, ela tinha a Dulce e outros entes queridos para tentar dar um melhor acolhimento diante da sombra que estava em nossas cabeças.

Pelo que me lembro, fomos viajar na quinta no final do dia, e aquele prometia ser o final de semana prolongado mais longo e, ao mesmo tempo, pesado da história, mas fomos interrompidos pelo meu tio João, no sábado, dizendo que marcou uma consulta com um outro obstetra, o qual tinha uma máquina de ecografia no seu consultório, para confrontar os resultados. A consulta seria na segunda e por isso, precisávamos antecipar em um turno o retorno a Porto Alegre (voltaríamos na segunda após o almoço). A consulta foi uma tentativa do meu tio de tentar achar uma maneira de acalmar a "lagartixa" e eu, mas infelizmente não mudou em nada o diagnóstico anterior.

Na consulta do neurologista ficamos sabendo de todas as sequelas da lesão que essa má formação poderia trazer. A única sequela certa seria a hidrocefalia, no mais era aguardar até o nascimento, pois segundo a medicina tradicional, nada mais poderia ser feito.

Assim acontece a PRIMEIRA DERROTA de Gabriela.

quarta-feira, 16 de abril de 2014

SEXO X NOME

Enquanto a ficha caia, a vida continuava. Antes de saber que iria ser pai, estava planejado uma viagem a Natal/RN para o mês de março daquele 2010. Eu já conhecia alguns pontos, mas tinha a obrigação de levar a minha joalheira antes que a jóia (GABRIELA) crescesse a ponto de ficarmos mais restritos e sossegados.

Antes de continuar a história, uma pequena dica para os aventureiros, em vez de procurar grandes operadoras e pagar uma babilônia de dinheiro para não conseguir curtir a viagem, procure operadoras locais. Será mais barato e você conseguirá curtir mais. Nessa viagem, fomos com passagem, hotel, traslado e o citytour marcado. Os passeios todos foram marcados lá. Para passear de buggy, precisavamos de um motorista mais cuidadoso e, ao mesmo tempo, de parcerias que não quisessem tanta emoção (ficar dando  "zerinho" na areia era impensável). A guia conseguiu e combinou tudo com o "buggeiro" e fizemos um passeio maravilhoso. Fomos a PIPA, Barra do Cunhaú, Maracajaú (mergulho divino) e Barra do Punhaú também. Valeu muito a pena.

Além disso, precisavamos tomar algumas decisões comuns aos casais "grávidos". Escolher nome é a mais comum. Preferência por sexo eu nunca tive, meu pai sempre me ensinou que o importante é a criança ter saúde. Mas naquele momento, a música do Raul Seixas, Meu amigo Pedro sempre me assombrava, não pela letra inteira, mas sempre pelo refrão: "PEDRO, ONDE CÊ VAI EU TAMBÉM VOU...".

 

Pois durante a viagem, no terceiro dia de passeio, eu e a Letícia estava descendo as famosas escadarias da praia da PIPA e, ao mesmo tempo, queria fotos dela. Como eu prefiro ver as imagens ao vivo e guardar no cérebro e no coração, queria descer a escadaria e chegar próximo ao mar. Não é que Letícia achou uma baiana fotografa (beijo, Rejane Rodrigues). Eu, por outro lado, como também sou um rapaz tímido, desci a longa escadaria (que medo da subida) e já puxei papo com um casal carioca que veio no mesmo transfer (saudades da Suyene e do Leandro). Pronto, estava feita a turma.
Entre uma conversa, uma cerveja e um petisco, a Letícia conta da gravidez e que não tínhamos nome ainda, caso fosse menina. Como mulher gosta de falar, acabaram as 3 (Lê, Suy e Rejane) decidindo que o nome seria GABRIELA, agora faltava me convencer.
O fato é que o nome não me pareceu tão forte quanto Pedro, aliado a música na minha cabeça, não tinha confiança naquele nome. No outro dia, na Barra do Cunhaú, é que conseguiram me convencer. Até hoje não entendo como, acho que  me embebedaram (o que não tiveram muito esforço para isso) para me convencer. Hoje, independente do nome, vejo que GABRIELA é extremamente forte, mais forte que todos esperávamos. Diante do que passou e do que ainda vai passar, acho que ela é mais forte que todas as pessoas que estão nessa luta junto com ela, e é ela que nos concede um pouco dessa força para enfrentarmos as batalhas que vieram e virão.

Assim acontece a segunda PEQUENA VITÓRIA de Gabriela.

Obs.: olhando para trás agora, não sei se foi tão pequena...

sábado, 12 de abril de 2014

A DESCOBERTA

Tudo começa em um final de semana em meados de fevereiro de 2010, em Tapes/RS, quando a minha esposa nota o atraso do seu ciclo e que ela pode estar grávida. Eu, como conhecia muito bem a pontualidade do corpo dela, já sabia que eu iria ser presenteado com a maior honraria que um homem pode ter: SER PAI. Decidimos então dar a notícia apenas após a comprovação por meio de exames e, na segunda-feira, levei a Letícia a um laboratório para fazer o famoso Beta-HCG. Com a resultado positivo, procuramos a ginecologista e obstetra para saber os primeiros procedimentos, notificamos aos familiares e amigos, essas coisas triviais de qualquer casal que está "grávido". De minha parte, estava muito feliz mas ainda sem a noção total do que o futuro me reservava. Acho que isso vai acontecendo aos poucos, com o corpo e o comportamento da Letícia se modificando conforme o maravilhoso fruto da nossa relação vai se desenvolvendo dentro dela. Lembro também que as primeiras semanas foram de um certo temor, pois já tinhamos perdido uma gestação antes, que só foi superada a partir de uma frase de um ex-cliente e médico obstetra:
"40% das primeiras gestações de uma mulher são perdidas simplesmente por imaturidade do corpo."
Assim chegamos a primeira PEQUENA VITÓRIA da nossa Gabriela...